Parasitología
Resposta imune anti-Leishmania e mecanismos de evasão
Fecha de recepción: 17/04/2007
Fecha de aceptación:
17/04/2007
Parasitas do gênero Leishmania são protozoários intracelulares obrigatórios responsáveis por causar um complexo de doenças humanas e animais denominadas leishmanioses. A transmissão ocorre, principalmente, pela picada do vetor (gêneros Lutzomyia ou Phloebotomus). Assim que a Leishmania penetra no hospedeiro vertebrado, o sistema imune é ativado e passa a lutar contra a infecção através das respotas imunes inata (fagócitos, células NK e sistema complemento) e adaptativa (produção de citocinas e anticorpos). Por sua vez, o parasita consegue evadir a resposta imune, levando a uma cronicidade da infecção. Os mecanismos básicos relacionados à evasão da Leishmania serão revisados.
Palabras Claves: Leishmania ? resposta imune ? evasão do parasita
Title Anti-Leishmania immune response and evasion mechanisms
Abstract Parasites from genus Leishmania are intracellular obligate protozoan responsible for causing human and animal complex of diseases called leishmaniasis. Transmission occurs mainly after vector biting (genus Lutzomyia or Phloebotomus). When Leishmania enters vertebrate host, its immune system is activated and starts to fight against infection by innate (phagocytes, NK cells and complement system) and adaptive (cytokine and antibody production) immune responses. Parasite can evade immune response providing chronic infection. Basic Leishmania evasion-related mechanisms will be revised
Key Word Leishmania ? immune response ? parasite evasion
Introducción
O complexo das leishmanioses representa grave problema de saúde pública. A prevalência mundial é de 12 milhões de pessoas infectadas e a população sob risco de contrair a doença de cerca de 350 milhões de pessoas34. Afeta cerca de 88 países, sendo 75 considerados em desenvolvimento e 13 subdesenvolvidos34. Apesar de serem conhecidas há muito tempo e dos inúmeros estudos voltados ao seu entendimento, as leishmanioses são consideradas, ainda, doenças emergentes e sem controle ? doença de categoria I ? cujo foco das pesquisas deve ser a aquisição de novos conhecimentos e de medidas eficazes de controle34.
Quanto às características clínicas e à relação parasito-hospedeiro, este complexo pode ser dividido basicamente em duas doenças distintas: Leishmaniose Visceral e Leishmaniose Tegumentar. A Leishmaniose Visceral (LV) ou calazar é uma enfermidade infecciosa generalizada, crônica, com sua forma clássica caracterizada por febre irregular e de longa duração, hepatoesplenomegalia, linfadenopatia, anemia com leucopenia, hipergamaglobulinemia e hipoalbuminemia, emagrecimento, edema e estado de debilidade progressivo levando à caquexia e, até mesmo, ao óbito se o paciente não for submetido ao tratamento específico. As formas clínicas são diversas, podendo o indivíduo apresentar desde cura espontânea, formas oligo e assintomáticas, até manifestações graves. O diagnóstico de certeza é baseado nos achados clínicos e na demonstração do parasito em aspirados de medula óssea ou de baço. Quando não se consegue demonstrar o parasito, opta-se pelas técnicas de detecção de
anticorpos específicos, como o ensaio imunoenzimático. Dentre os 88 países acometidos pelas Leishmanioses, cinco merecem atenção especial por representarem cerca de 90% dos casos de Leishmaniose Visceral - Bangladesh, Brasil, Índia, Nepal, Sudão e Venezuela. A incidência anual de casos de LV é estimada em 500.000 casos. O crescimento no número de pacientes infectados está, em muito, relacionado com co-infecção por HIV/AIDS34. A principal espécie do parasito envolvida com LV no Brasil é a Leishmania Leishmania chagasi transmitida pelo Lutzomyia longipalpis.
A outra forma clínica das leishmanioses, a Leishmaniose Tegumentar (LT) é uma doença de caráter zoonótico que acomete o homem e diversas espécies de animais silvestres e domésticos. No Novo Mundo, as evidências mais antigas da existência da doença são fornecidas por relíquias arqueológicas, como cerâmicas provenientes do Peru e do Equador, datando 400 a 900 dC, que ilustram lesões sugestivas de leishmaniose35. Nas primeiras décadas do século XX, as construções de novas estradas e novas áreas de colonização eram os fatores que, predominantemente, expunham trabalhadores à infecção, devido ao contato com ambientes naturais até então inalterados. No entanto, o que se observa, atualmente, é o processo de urbanização da doença, principalmente no estado de Minas Gerais, Brasil23. A transmissão passa a ser domiciliar, urbana e peri-urbana, atingindo principalmente as populações de baixa renda.
Considerada uma enfermidade polimórfica e espectral da pele e das mucosas, a LT pode se manifestar através de diferentes formas clínicas. A forma cutaneomucosa é caracterizada por lesões mucosas agressivas que afetam a nasofaringe, a forma disseminada apresenta múltiplas úlceras cutâneas por disseminação hematogênica ou linfática, enquanto que a forma difusa apresenta lesões nodulares não ulceradas. A forma cutânea localizada, por sua vez, é caracterizada por lesões ulceradas, indolores, únicas ou múltiplas10 24.
Os principais focos de LT estão localizados em oito países: Afeganistão, Arábia Saudita, Argélia, Brasil, Irã, Peru, Síria e Venezuela. A incidência anual é estimada entre 1 e 1,5 milhão de casos. Em várias áreas do mundo observa-se o constante aumento do número de casos de LT relacionados ao aumento na notificação de casos novos pela vigilância epidemiológica, ao desenvolvimento econômico e às modificações no comportamento e no meio ambiente, aumentando a exposição ao vetor34.
De acordo com dados do Serviço de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde do Brasil, observa-se uma expansão geográfica da leishmaniose tegumentar, com casos registrados em 20 unidades federadas no início da década de 80, enquanto que nos últimos anos todas as unidades federadas registraram casos autóctones da doença. No ano de 1994 houve um registro de casos autóctones em 1.861 municípios, o que representa 36,9% dos municípios do país. Em 2002 houve uma expansão da doença para 2.302 municípios (41,1%). No período de 1980 a 2003, a LT no Brasil apresentou coeficientes de detecção que oscilaram entre 3,83 a 22,94 por 100.000 habitantes. Do total de 552.059 casos novos notificados no país, 203.792 (36,9%) foram notificados na região Nordeste, e 200.100 (36,25%) na regiões Norte, indicando ser as duas regiões as áreas de maior endemicidade da doença. A região Norte apresentou coeficientes mais elevados (99,85/100.000 habitantes), seguida das regiões Centro-Oeste (41,85/100.000 habitantes) e Nordeste (26,50/100.000 habitantes). Na região Nordeste, o estado da Bahia apresentou um total de 62.717 casos novos notificados entre 1980 e 2003, totalizando 30,78% do número de casos da região5.
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