Caso Clínico
Criptococose cutânea em paciente nao-imunocomprometido
Discussão
As manifestações cutâneas da criptococose são extremamente polimorfas, incluindo lesões papulares, nodulares, celulites, que podem ou não ulcerar (1,2). Tais lesões podem preceder ou aparecer concomitantemente a alterações de outros órgãos. Apesar da doença ser adquirida geralmente pela via inalatória, existem relatos de inoculação cutânea primária, a qual deve ser descartada, a não ser que haja linfonodomegalia regional evidente, o que não é freqüente (2,4). Diante de um quadro de uma lesão ulcerada extensa, profunda e oligossintomática, sem sinais sistêmicos, e que não responde à antibioticoterapia, deve-se pensar em criptococose cutânea. Confirmado o diagnóstico, realiza-se o rastreamento de eventuais condições imunossupressoras associadas e de possível comprometimento sistêmico, em especial dos órgãos mais comumente comprometidos, como sistema nervoso central, rins e ossos (2,3,4).
A análise histopatológica das lesões mostra um quadro granulomatoso contendo inúmeros fungos revestidos por uma cápsula mucinosa, de espessura variável e de aspecto radiado (um notável artefato de fixação), que se cora por praticamente todas as técnicas utilizadas para corar mucinas, como ferro coloidal, mucicarmim, PAS, alcian blue, cresil violeta (a qual mostra uma birrefringência verde-amarelada virtualmente patognomônica), e também pelas colorações de rotina (HE, Gram e metenamina prata) (1,5). Quanto a tipagem do fungo, deve se proceder a cultura em meio CGB (canavanina, glicina e bromotimol), a qual mostra formação de pigmento azulado na presença do C. neoformans var. gattii , sendo a doença neste caso, em geral, de melhor prognóstico. Apesar da variante, a morbidade vai depender também da doença de base e do comprometimento sistêmico (2).
Há diferentes modalidades de tratamento descritas, variando desde a simples exérese cirúrgica da lesão (nos casos cutâneos localizados), a utilização de antifúngicos sistêmicos, predominantemente os imidazólicos orais, como fluconazol e itraconazol (1-5). Atualmente o itraconazol parece ser o antifúngico mais indicado nas formas cutâneas sem o comprometimento sistêmico, por ser a droga oral com menor concentração inibitória mínima (CIM) e por apresentar boa relação custo-benefício. A anfotericina-B deve ser utilizada nos casos mais severos da doença (associada ou não a 5-fluocitosina), principalmente na presença de co-morbidades, podendo ser substituída pelo fluconazol nos casos de intolerância e quando houver envolvimento do sistema nervoso central. O tratamento deve ser mantido até a cura clínica, em geral de três a seis meses. A profilaxia será instituída, com fluconazol ou anfotericina-B nos casos de envolvimento do sistema nervoso central e casos com co-morbidades (por exemplo, AIDS), permanecendo indefinidamente. No caso ora relatado, o paciente foi tratado com itraconazol (200 mg/d durante 4 meses) e como não tinha condições imunossupressoras de base a medicação foi suspensa após cura clínica e micológica, permanecendo assintomático por 2 anos. |