Parasitología
Resposta imune anti-Leishmania e mecanismos de evasão
Evasão da resposta imune extracelular
Um sistema de proteínas ativadas por clivagem em cascata, conhecido como sistema complemento é um dos principais mecanismos extracelulares de combate inicial a agentes externos. Quando a fase promastigota procíclica (estágio no vetor) da Leishmania se transforma em forma metacíclica infectiva e penetra no hospedeiro vertebrado, esta sofre alterações na membrana, que são capazes de impedir a inserção do complexo C5b-C9 (MAC) do sistema complemento do hospedeiro36. Esta modificação na membrana ocorre principalmente através do alongamento na estrutura do lipofosfoglicano (LPG), o que dificulta a ligação do complexo MAC do sistema complemento ao parasita25. Além disso, durante o desenvolvimento das formas procíclicas, ocorre uma maior expressão das moléculas de gp63 (glicoproteína de superfície de 63kDa), que são responsáveis por clivar a molécula C3b em C3bi, sua forma inativa, impedindo, também, a formação do MAC do sistema complemento6. As moléculas C3b e C3bi atuam, ainda, na opsonização do parasita, facilitando a fagocitose por meio de ligação destas moléculas aos receptores do sistema complemento CR3 e CR1 presentes nas células. A ligação aos receptores do complemento não ativam os mecanismos oxidativos microbicidas do fagócito51 e facilita a entrada do parasita na célula-alvo.
Estudos in vitro direcionados ao entendimento do mecanismo utilizado pelo parasita para evadir ao sistema complemento apresentam dados divergentes. Enquanto Mosser e Edelson (1984)30 sugeriram que a opsonização de Leishmania ocorre por ativação independente de anticorpos, ou seja, pela via alternativa do complemento, Domínguez e colaboradores (2002)9 demonstraram que a opsonização in vitro por C3 na superfície de Leishmania é dependente de fatores C1q e C2 da via clássica de ativação do sistema complemento. Ainda, sugerem que a entrada nas células hospedeiras deva ocorrer em um período de tempo curto desde a entrada do parasita no hospedeiro, indicando que o sistema complemento pode exercer importante pressão seletiva na infecção por Leishmania. Estudos in vivo, como o realizado por Laurenti e colaboradores (2004)22 confirmam estes dados. Utilizando-se do modelo de infecção L. (L.) amazonensis em camundongos da linhagem BALB/c, demonstrou-se que o sistema complemento exerce importante controle na parasitemia, já que em camundongos nos quais o sistema complemento foi depletado pela administração de proteína de veneno de cobra (CVF), uma C3 convertase, houve queda significativa da resposta inflamatória com aumento expressivo da quantidade de parasitas22.
Após escaparem da ação da lise mediada pelo sistema complemento, os promastigotas de Leishmania devem invadir rapidamente a célula-alvo e iniciar a fase intracelular da infecção. Uma vez no interior das células fagocíticas, os parasitos modulam o micro-ambiente, aparentemente hostil, proporcionando facilitar o estabelecimento da infecção. |